O Presidente chinês, Xi Jinping, enalteceu hoje o combate à corrupção e as “profundas” reformas lançadas pelo homólogo angolano, João Lourenço, durante um encontro no Grande Palácio do Povo, em Pequim. Isso não o impediu, antes pelo contrário, de negociar, apoiar e incentivar as relações com o corrupto governo de José Eduardo dos Santos do qual, aliás, João Lourenço fez parte.
“A pós ser eleito Presidente, [João Lourenço] impulsionou reformas profundas, combateu a corrupção e abriu-se ao mundo, com políticas que têm o apoio do povo angolano”, afirmou Xi Jinping.
“Angola está a conseguir acelerar o seu desenvolvimento e acredito que vai registar progressos ao longo dos próximos anos”, acrescentou.
Com bom anfitrião, Xi Jinping disse o que era esperado que dissesse, seguindo a mesma metodologia posta em prática durante os 38 anos de ditadura cleptocrática e esclavagista de José Eduardo dos Santos.
Ninguém estava à espera que Xi Jinping dissesse que, por exonerar uns tantos membros da anterior equipa de Eduardo dos Santos, João Lourenço ainda nada fez de concreto contra a corrupção. Prender corruptos não significa lutar contra a corrupção. Até porque ainda está por saber a extensão dos telhados de vidro dos novos craques que o Presidente escolheu. Ainda ninguém percebeu se pegar no presidente do Tribunal Constitucional e nomeá-lo presidente do Tribunal Supremo, e pegar no presidente do Supremo Tribunal e nomeá-lo presidente do Tribunal Constitucional, são uma prova de que a luta contra a corrupção é mesmo para levar a sério.
João Lourenço foi recebido hoje em Pequim por Xi Jinping, com guarda de honra, salvas de canhão e o hino dos dois países tocado por uma banda militar. Tudo como manda o protocolo.
A cerimónia decorreu junto à porta leste do Grande Palácio do Povo, de frente para a Praça Tiananmen, o centro físico e político da capital chinesa.
Os dois governantes reuniram-se a seguir num dos salões do Grande Palácio do Povo, onde assistiram à assinatura de vários acordos de cooperação.
Angola e a China mantêm relações diplomáticas desde 1983 e há mais de 20 ano que têm uma intensa cooperação bilateral. Nos últimos 16 anos, na altura do fim da guerra, a China tornou-se o principal financiador/credor estrangeiro de infra-estruturas em Angola, que já passou a ser o seu terceiro maior parceiro em África. Desde 2002 Angola já beneficiou de financiamentos superiores a 23 mil milhões de dólares.
A propósito da cooperação bilateral, João Lourenço garante que Angola tem obtido resultados que contribuem significativamente para a melhoria das suas infra-estruturas fundamentais e, em consequência disso, para o aumento do crescimento económico.
Crescimento económico petrolífero já que, como se sabe, a diversificação da economia é algo a que o MPLA é alérgico, pese o facto de o país ter tudo para ser auto-suficiente em muitas valências, desde logo a nível alimentar.
Apesar de estar satisfeito com os índices da cooperação, João Lourenço manifestou na China o interesse de Angola em manter e reforçar o intercâmbio entre os dois Estados, sublinhando que essa parceria estratégica poderá servir como uma espécie de paradigma para o intercâmbio com outros países africanos.
Na sua intervenção, o Chefe de Estado falou igualmente sobre a participação de Angola no Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), em 3 a 4 de Setembro, que representa “um sinal da importância mútua que se atribui à cooperação.
No entender de João Lourenço, esses resultados produzem ganhos tangíveis e efeitos directos na melhoria das condições de vida das populações africanas.
Tudo normal, tudo à moda do… MPLA
É claro que, sobretudo numa altura em que se está de mãos estendidas, não é tempo (alguma vez o será?) de João Lourenço pensar na factura e nos custos dessa ajuda, grande parte dela dispensável se o partido que governa Angola desde 1975 não fosse corrupto e em vez de trabalhar para os poucos que têm milhões fizesse alguma coisa útil para os milhões que têm pouco ou… nada.
Em relação ao continente em geral, João Lourenço reconheceu que a China tem desempenhado um papel importante no processo de desenvolvimento de África, processo que “requer uma certa atenção”.
Recorde-se que o Presidente chinês anunciou no Fórum de Cooperação China-África, em Pequim, 60 mil milhões de dólares (51 mil milhões de euros) em assistência e empréstimos para países africanos.
“As nossas parcerias no passado não deram certo e, em poucas décadas, a China estendeu-nos a mão e os resultados são visíveis em praticamente todo o continente”, reconheceu submisso e bajulador João Lourenço, bem ao estilo do comportamento do partido do qual é Presidente, e que é sempre muito forte com os fracos e fraquinho com os fortes.
Definitivamente um dos donos (China) do dono de Angola (MPLA) não deixa os seus créditos por hipotecas alheias. O que terá levado, nesta altura do “campeonato”, o embaixador da China em Luanda, Cui Aimin, a dizer no passado dia 23 de Agosto que a dívida de Angola para com o seu país “é controlável, sustentável e não é muito má”, considerando ser um assunto bilateral, sem, no entanto, avançar o montante?
De acordo com Cui Aimin, a dívida é uma situação normal de países em desenvolvimento que necessitam de sustentar os seus projectos, afirmando ser uma dívida “controlável e sustentável” para ambos os países. É claro que Luanda, talvez mais do que Pequim, agradece a explicação que certamente o Governo de João Lourenço fará chegar ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Para o devedor, é necessário tomar decisões conforme as próprias necessidades e capacidades. Para o credor, é também necessário levar em consideração a sua capacidade de financiamento. É um assunto bilateral, daí que a sua resolução deve merecer um tratamento entre as partes”, disse Cui Aimin, certamente agastado com esse fantasma do FMI.
Ainda assim, o embaixador chinês em Angola considerou que a situação da dívida de Angola para com o seu país “é controlável”. Ou seja, pormenorizou, “a situação não é muito má”.
A dívida externa acumulada de Angola à China, bilateral e comercial (através dos bancos), ascendia em 2017 a 21.500 milhões de dólares (18.600 milhões de euros), de acordo com dados oficiais do Governo angolano.
Cui Aimin destacou as reformas económicas (que, na verdade, ainda são um mero enunciado de boas intenções) em curso em Angola como “medidas positivas” para “evitar os riscos da dívida” e que dão igualmente um “outro vigor ao desenvolvimento económico” do país.
Em relação à cooperação bilateral, o embaixador da China em Angola fez saber que ambas as partes estão a negociar alguns acordos, nomeadamente no domínio da “protecção de investimentos”.
“Acho que, com a eventual assinatura [dos acordos], isso vai representar a solidificação das boas relações entre os dois países, mas também é um grande e importante factor para atrair os investidores chineses e estrangeiros”, afirmou.
“São garantias institucionais e jurídicas para os investimentos estrangeiros em Angola”, indicou.
Folha 8 com Lusa